Também, né, são 2 a.m! Hahaha terminei agora de arrumar a minha mala, estou indo viajar, 10 dias de férias ♥ Por isso não tive tempo de escrever aqui o que eu queria desde manhã. Por isso também que vim antes de dormir, porque sabia que se não escrevesse hoje, não escreveria nunca.
Hoje vou fazer mais um post sobre o Japão. Quer dizer, sobre alguns pensamentos que eu tenho a respeito do Japão.
Em 2002 eu li Rurouni Kenshin pela primeira vez, eu tinha só 15 anos. Apesar de ter achado bem difícil entender todas as coisas de política e história do Japão, Kenshin foi um daqueles amores que bateu e ficou pra vida toda, sabe? Eu poderia ficar horas aqui falando sobre como eu pirava em cada OVA, em cada novel, em cada coisinha. Eu fiz um ano de kendô e posso dizer que grande parte do meu interesse mais profundo por samurais e história japonesa começou aí. Por isso eu pirei quando soube que a JBC iria relançar todos os volumes de Rurouni Kenshin, numa edição mais parecida com a japonesa mesmo (a edição velha, além de chamar Samurai X, dividia cada volume em vários mini-voluminhos, na época custava 3,90 eu acho, e era quinzenal!).
Como eu não tenho a edição antiga de Kenshin, porque eu comprava junto com um amigo meu e ficou tudo com ele, nem pensei duas vezes e comprei! Tá no volume 9 já ♥ E essa semana, depois de colocar um pouco da leitura em dia, comecei a ler de novo o mangá, 11 anos depois. É incrível como 11 anos é MUITO tempo mesmo, né? De lá pra cá eu aprendi muita coisa, estudei muta coisa, conheci vários lugares, então ler Rurouni Kenshin hoje em dia é outra coisa, pra mim. Eu consigo entender bem melhor todo o contexto, os conflitos políticos, a briga de ideais e toda aquela balbúrdia que foi o final do Shogunato e a entrada da Era Meiji. Acho até que, pedindo licença para a Dana do passado, eu amo Kenshin MAIS AINDA agora que consigo entender melhor a cabeça deles e como as coisas funcionavam. Claro, eu tô longe de saber tudo o que eu gostaria do assunto, hahahaha. É MUITO difícil compreender a história e a cultura milenar de um país do outro lado do mundo, que não chega nem a ser citado em aulas de escola. Por mais que eu estude bastante por conta, a gente vai aprendendo um pouco mais todo dia. Aliás, as notas de rodapé de Kenshin são maravilhosas pra isso.
Mas apesar de ter a ver com o assunto, não era disso que eu vim falar. Eu vim falar de uma coisa mais... pessoal, digamos assim. Eu acho a história do Japão uma coisa muito triste. Muito cheia de guerras, de sangue, de tantas batalhas que podiam ter sido evitadas. No fim das contas, dá pra entender porque as pessoas eram enganadas ao achar que a Era Meiji traria paz. Imagina você viver num país fragmentado em feudos, onde as pessoas eram confinadas a castas hierárquicas e nunca poderiam melhorar de vida. Quer dizer, a Europa também viveu isso, mas acho que não sentiu o peso do feudalismo que o Japão sentiu. Japão foi feudal durante muito mais séculos, com muito mais guerras entre os feudos. Os detentores do poder e da espada podiam matar quem eles queriam, quando eles queriam, em nome de uma honra que nem sempre era verdade. Era literalmente matar ou morrer cada um por seus ideais. E a população, claro, vivendo no fogo cruzado sempre, os pobres com condições péssimas de vida.
Por isso, quando a Era Meiji chegou com a ideia do Japão unificado, moderno, aberto para os outros países, era como um sonho. O mais bizarro é acreditar que isso aconteceu há apenas 145 anos. Quer dizer, há apenas 150 anos atrás, o Japão vivia fechado em um universo particular, onde os samurais se matavam em nome de seus mestres e em nome de um governo caótico que queria mudar da água pro vinho depressa demais. Sei lá, é um assunto denso demais pra tentar explicar em um post. Não sei se vai ficar confuso ou superficial demais tratar desse jeito.
Imaginem assim: O Japão passou mais de mil anos fechado, criando uma cultura e disciplina próprias, assim como sua língua. Os ocidentais chegaram lá pela primeira vez lá pelos anos 1600 e tentaram arregaçar lá. Levaram jesuítas pra pregar o cristianismo, fizeram um milhão de tratados de comércio, enfim... praticamente estupraram a cultura japonesa e terminaram banidos de lá. Por mais 200 anos o Japão se fechou, estabelecendo o shogunato Tokugawa, que foi o mais forte de todos. Aí ok, nós tínhamos uma sociedade regida pelos shoguns, nas ruas quem comandavam eram os samurais, nas cidades haviam os mercadores, os artesãos e os fazendeiros. Havia as guerras, claro, chuva de sangue para todo lado por disputa de poder, de honra, moral, etc. Mas era o cotidiano deles, por pior que fosse.
Até que, de repente, lá vão os ocidentais bater na porta de novo. Só que, cara, pensa, 1868. O mundo todo já tava desenvolvido. Já tínhamos tido as Revoluções Industriais, já tínhamos trens, eletricidade. E o Japão lá, vivendo de arroz e vestindo kimono, no AUGE da pancadaria que era o Bakumatsu. Claro que o Japão se sentiu atrasado e também bastante tentado a respeito do dinheiro. Quem é que não quer ser uma nação rica e próspera? Só que, né? Como a gente vai mudar um país inteiro e depressa, como queriam os ocidentais? Fácil, muito fácil. MUDA TUDO. Vira pros samurais e falam que agora eles não podem mais lutar. Tira o poder dos senhores feudais. Persegue a polícia que você mesmo montou (Shinsengumi, por exemplo) e mata todo mundo que for contra você!
MAS! (Sempre tem um mas) Claro que para a população, a propaganda era bem diferente. Estamos falando de modernizar o país, de acabar com as castas, de acabar com as guerras, de acabar com o medo nas ruas. Então obviamente o Japão se dividiu entre os que queriam a restauração Meiji e os que não queriam. MAS (de novo), os que não queriam a restauração não era porque eram só os arrogantes, detentores de poder não. A gente tá falando de uma cultura inteira, né? Imagina você fazer uma coisa a vida toda e de repente alguém falar que você não pode mais fazer? Imagina pra um samurai, que acreditava com toda sua força, que estava sempre lutando pelo Imperador, descobrir que o Imperador não queria mais que lutasse por ele? O que eles iriam fazer, pra onde eles iriam?
É claro que eu acho que o Japão tinha mesmo que ter reestruturado o governo por mais igualmente e ser mais aberto às culturas estrangeiras (o nível de xenofobia era algo insano, eles matavam ocidentais no Porto de Yokohama), mas eu acho que tudo aconteceu rápido demais, errado demais, na intenção de impressionar os estrangeiros. Sabe como? Igual quando uma visita inesperada aparece na sua casa e você joga toda a bagunça dentro do armário. A visita não vai abrir pra ver, mas você sabe que tá um CAOS dentro da portinha. É desse caos que a gente tá falando. De milhares de pessoas que perderam o significado pra viver. De antigos guerreiros do Imperador que foram caçados e mortos iguais bichos pelo próprio governo que serviam. A verdade é que nem o governo sabia o que fazer, aí deu no que deu. No final das contas, o poder se concentrou na mão dos adeptos da Era Meiji e as castas só mudaram de nome. Virou um buraco imenso de desigualdade social. Hoje você vê como as coisas mudaram, o Japão se tornou uma super potência e em 145 anos eles saíram do feudalismo pra uma das maiores economias do mundo, sobrevivendo até à Segunda Guerra Mundial. Mas eu SEMPRE fico triste quando eu penso no custo que isso teve. Quanta tristeza não pagou a conta.
Quando eu quis fazer esse post, nem era pra falar de HISTÓRIA, mas no final das contas não tinha como falar sem situar tudo. O que me fez querer escrever foi relembrar a idade que essas pessoas, esses samurais tinham ao morrer. No caso de Kenshin, o mestre do Sano, o Capitão Sagara, que era um personagem real da História, foi decapitado aos 29 anos. Quando morei no Japão, tive a oportunidade de conhecer um cemitério histórico, em Tokyo, onde são os túmulos dos 47 rounins.
Contando a história em resumo, eles eram 47 samurais que serviam a um mestre, que foi assassinado. Se tornaram rounins (samurais andarilhos/sem mestre), mas ainda mantinham a lealdade em seus corações. Juntos, arquitetaram um plano de vingança para matar o assassino do senhor deles. Eles conseguiram, mas todos eles morreram naquele dia e as lápides deles estão todas juntas. Quando eu fui lá, comprei incenso pra acender pra todos eles e chorei igual criança. Tem os nomes deles e as idades, né? E tinham desde homens de 40 anos, até garotos de 18. Eu fiquei lá horas, sentada, tentando entender...como será que era a cabeça de um garoto desses? Que morreu em prol da lealdade para com um mestre? É foda demais isso. Eu sei que vocês vão dizer, "Ah, Dana, naquela época era diferente porque eles ficavam adultos cedo. Era outra cabeça e blablabla". Concordo. Mas eu me vejo agora com 27 anos, quase 10 anos a mais que muitos desses samurais que morreram e não consigo compreender como é ter um ideal tão forte assim.
Agora imaginem como foi, de repente, toda essa cultura ser apagada por uma "restauração de paz", que na verdade não trouxe paz nenhuma?
Sei lá, o Bakufu é um assunto que me deixa muito pensativa, HAHAHA.
Apesar de ser uma coisa que nem eu e nem ninguém da minha família viveu, não tem como não achar triste, né?
Mas eu não fiz esse post pra deixar a galera na deprê não, HAHAHAHAHA. Eu sei que é um assunto denso, mas apesar de qualquer coisa, é uma coisa que eu piro demais e me interesso demais, então sempre fico louca e fico querendo conhecer ainda mais. Tô obstinadíssima a continuar lendo Kenshin, que é maravilhoso e uma aula de história pra quem quiser ler ♥ Na verdade, eu ousaria dizer que é leitura OBRIGATÓRIA pra todo mundo que diz gostar de Japão, HAHAHA.
É isso, gente, espero que vocês tenham gostado, apesar de ter ficado totalmente um texto passeado pela minha mente!
♥